domingo, 21 de março de 2010

Maquiavelicamente Coreano



Grupo Busca da razão

“Todos vêem o que tu aparentas, poucos sentem aquilo que tu és, e esses poucos não se atrevem a contrariar a opinião dos muitos(...).”-O príncipe. A obra de Nicolau Maquiavel (1469- 1527) é considerada um manual para os líderes e governantes, pelo conjunto de ensinamentos para a conquista, manutenção e perpetuação do poder. Trata-se de um objeto fundamental à política, criado pelo pensamento humano, que redefiniu os conceitos de Estado que até hoje conhecemos.
Nicolau Maquiavel amava, sobretudo, a cidade e os assuntos do Estado. Foi por este amor que o pensador sempre esteve vinculado com a realidade política da época. O objeto de suas reflexões eram o fenômeno do poder e a própria política, sendo vista como uma prática humana e não algo sacralizado. Para ele o poder é algo autônomo do político e existe uma separação entre a ética e o direito no mesmo. Hoje, vemos claramente que alguns governantes usam as bases do pensamento de Maquiavel para dominar uma sociedade. São estes, como diria Maquiavel, os lobos - que afugentam os inimigos - e as raposas – que são tão espertas ao ponto de não caírem nas armadilhas -.
A Coréia do Norte (C.N.), cujo Chefe de Estado é Kim Jong-il, é um dos países em que os ensinamentos da obra “O Príncipe” são facilmente encontrados. A “questão Vitelli” de Maquiavel mostra que a soberania política necessita de uma milícia nacional, formada por soldados locais, disciplinados e, acima de tudo, leais. Tal noção é assumida na C.N. que possui um grande exército armado e está fazendo testes com armas nucleares, mostrando sua hegemonia ibérica. A defesa econômica e política da C.N. com relação aos países estrangeiros, também é observada na obra do pensador italiano. Para Nicolau Maquiavel o peso sobre as relações internacionais deve ser insignificante e se deve confiar pouco em aliados demasiadamente poderosos – daí vem a desconfiança da C.N. sobre os Estados Unidos e tantos outros países.
A questão de Maquiavel sobre a Virtú – capacidade do homem de calcular as suas ações - e Fortuna – as condições dadas para o êxito da ação política - são observadas na C.N. quando Kim Jong-il usa da sua força militar acoplada com o sentido de Virtú, nas revoltas que são feitas por grupos rebeldes contra o governo ditatorial. O uso virtuoso desta força faz com que sempre exista um respeito para com o Chefe de Estado e que o poder deste seja ilimitado. A Virtú no caso da Coréia do Norte é, portanto, a manutenção do poder, enquanto a Fortuna foi (uma vez que esta é uma questão da História do país coreano; hereditariedade do “presidente eterno” Kim II-sung para seu filho Kim Jong-il) as condições para que este poder esteja nas mãos do atual Chefe de Estado.
A relação de que o Príncipe deve ser temido e amado na obra de Nicolau Maquiavel existe na Coréia do Norte observando a frase no início deste texto. O medo que existe na população coreana é tanto que muitos preferem amar e admirar Kim Jong-il e suas ações do que tentar retirá-lo do poder. Além disso, mesmo com a falta dos direitos humanos – tortura, fome, trabalho forçado, entre outros – o Estado obtém a aprovação da população pela sua atividade na educação, na saúde e pela abolição dos impostos. O respeito/admiração com a imagem do “presidente eterno” Kim II-sung mostra a submissão que existe no local.
Entre as páginas antigas de um simples livro, um homem colocou seus maiores pensamentos sobre o que, para ele, era a política. Seus ensinamentos ultrapassaram séculos e gerações ainda vivendo nos dias de hoje.

Um comentário:

  1. O texto expressa boa articulação dos conceitos de Maquiavel e a realidade política da Coréia do Norte, apesar de algumas imprecisões no parágrafo que aborda os conceitos de virtù e fortuna. Não ficou muito claro como vocês vêem o usos da virtù e da fortuna no caso do governo coreano. Virtù seria, nesse caso, somente a conservação do poder?
    Além disso, a reflexão demonstra a realização de um levantamento de informações sobre a realidade política do país e esboça algum espírito crítico em relação aos mecanismos da política adotados no país.

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