domingo, 21 de março de 2010

África a luz de Maquiavel

Grupo Apolíticos

A obra “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel, foi escrita em um contexto histórico de fragmentação política na península itálica. Esse período foi marcado por sucessivos golpes pelo controle do poder. Esses conflitos acarretavam em um ciclo de instabilidade política e social, deixando a região suscetível a invasões externas.
      Atualmente a Itália é um Estado estabilizado, porém, mesmo no século XXI, existem países que enfrentam situações semelhantes as da Itália nos séculos XV e XVI. Alguns países africanos, como Ruanda, Serram Leoa, Somália, entre outros, que convivem com conflitos tribais que tem fragilizado seus Estados. (Vide vídeo sobre a origem dos conflitos no final do texto).
     Em Ruanda, no ano de 1959, os hutus, etnia majoritária, depuseram o monarca tutsi. Nos anos seguintes, milhares de tutsis foram mortos, porém outros milhares se exilaram nos países vizinhos. Mais tarde, os filhos desses exilados formaram um grupo rebelde, a RPF    (Rwandan Patriotic Front- Frente Patriótica de Ruanda), e começaram uma guerra civil em 1990. Os tutsis rebeldes derrotaram o regime hutu. Maquiavel alertava em seu conceito de principados mistos, que caso um rei assumisse o poder por meio de um golpe, este deveria exterminar toda a linhagem anterior. Desse modo evita-se que haja novos golpes pela retomada do poder e aumentam as possibilidades de manter uma estabilidade nos Estados.
      Que adquire tais territórios, desejando conservá-los, deve tomar em consideração duas coisas: uma, que a estirpe do seu antigo príncipe desapareça;a outra, não alterar as leis, nem os seus impostos” (‘O Príncipe’- Cap. III- Nicolau Maquiavel).
     Como era previsto, existem milhares de hutus refugiados, alguns retornaram à Ruanda, outros temem ainda a vingança dos tutisis. Entretanto há muitos hutus formando uma organização, na Republica Democrática do Congo, para retomar Ruanda. O país continua a lutar para melhorar seus índices econômicos e buscar a conciliação entre tutsis e hutus. O domínio exercido pelos tutsis é perceptível e a instabilidade permanece.
      A situação desses países africanos, que como Ruanda, convivem com lutas internas entre as diversas tribos para assumir o controle do Estado é muito delicada. E dizer que uma tribo deve exterminar completamente a outra para consolidar um regime seguro e estável é no mínimo muito cruel e atenta contra todos os esforços internacionais de promover a paz entre os povos. No entanto, na visão pragmática de Maquiavel, esta é uma maneira de se manter no poder. 




  Como curiosidade e enriquecimento pessoal sobre a crise que alguns países africanos enfrentam recomendamos que assistam os filmes: “O ultimo rei da Escócia”,”Hotel Ruanda” e “O senhor das armas”.
      Agradecemos a colaboração de Iaia Augusto Cuma, da Guiné Bissau, mestrando da Pontifícia Universidade Católica.

Um comentário:

  1. A realidade de Ruanda pode ser interpertada à luz do pensamento de Maquiavel. No enanto, creio que o texto não explicita claramente as relações estabelecidas entre a realidade das guerras etnicas e a obra de Maquiavel.
    Era preciso explicitar melhor as relações pensadas pelo grupo.
    Rose

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