Grupo Pauta PUC
Observando a política contemporânea é possível notar nela a influência da teoria desenvolvida por grandes pensadores, como, por exemplo, Maquiavel. Nascido em 1469 na Itália - o berço do mercantilismo - e inserido, portanto, no contexto renascentista, Maquiavel presenciou a instabilidade política na qual se encontrava seu país naquela época, devido à fragmentação territorial na forma de reinos. Ou seja, no século XVI não existia a ideia de nação para a Itália, que hoje se encontra unificada.
Em meio às agitações desse contexto, Maquiavel utilizou sua educação renascentista para teorizar em seu livro “O Príncipe” formas para um bom estadista exercer seu papel, lidando com a instabilidade e buscando sempre estabelecer a ordem. Segundo o autor, o papel do Estado como ordenador da sociedade é fundamental, pois a política depende da ordem e esta não é natural aos homens.
No exercício do poder, esse teorizador destaca que um bom governante é aquele que é capaz de fazer o uso virtuoso da força para impor respeito à sociedade. Sendo assim, a capacidade do homem de calcular suas ações – qualidade que o caracteriza como virtuoso – faz com que, através da força, os governados sejam submetidos à autoridade de seu governador. Ao destacar a seguinte colocação do autor: "os principais alicerces de qualquer Estado, seja ele novo, velho ou misto, consistem nas boas leis e nos bons exércitos.”, conclui-se que as instituições que detêm o poder do uso da força para representar o Estado devem ser suficientemente competentes para combater a violência, de forma que as leis dêem sustentação para manter a sociedade em ordem, sem deixar que se instale qualquer tipo de caos.
Portanto, o Estado detêm o poder exclusivo com relação ao uso da força e sua responsabilidade é punir aqueles que a utilizam sem a sua autorização. Analisando essa condição, percebe-se então que as forças armadas de um país são exatamente a expressão da burocracia perante a população; qualquer um que se utilizar da força de forma contrária à orientação do governo está sujeito à repressão por parte deste.
Não é necessário um grande esforço para notar que a realidade atual possui essa característica. A repressão exercida pelo Estado brasileiro é completamente real para qualquer pessoa capaz de observar o grande exemplo da “guerra particular”(denominação extraída de uma frase do ex-capitão do Bope – Batalhão de Operações Especiais – Rodrigo Pimentel) localizada nas periferias do Rio de Janeiro. O combate sem trégua entre os representantes da força estatal e os que se dispuseram a desafiar essa força é o exemplo palpável que os brasileiros têm com relação a essa hostilidade.
Segundo o atual secretário de segurança pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, “a polícia vai aonde quer, na hora que quer, do jeito que quer”, referindo-se à operação orientada por ele no Complexo do Alemão contra a facção criminosa Comando Vermelho, no ano de 2007; o que demonstra claramente o empenho da polícia em combater as forças contrárias à ordem central do país e a teoria de Maquiavel efetivamente retratada no cenário político atual. Recentemente, José Mariano Beltrame ganhou o prêmio Atitude Carioca na categoria Funcionário Público. Realizada pela Rede Record, a premiação – que teve o resultado decidido a partir do voto popular - tinha como objetivo homenagear cariocas que utilizam suas atividades para fazer do Rio uma cidade melhor.
O ISP (Instituto de Segurança Pública), órgão responsável por pesquisa, análise criminal, capacitação profissional e Conselhos Comunitários de segurança no estado do Rio de Janeiro, constatou através das estatísticas que 2009 apresentou resultados significativos para esse estado. O motivo principal destacado pela instituição foi a implantação pelo governo estadual das chamadas metas integradas, que são objetivos semestrais estabelecidos para as instituições policiais baseadas em quatro indicadores estratégicos: homicídio doloso, latrocínio, roubo de rua e roubo de veículo. Portanto, notamos novamente a significativa contribuição do referido autor com relação à atual circunstância política do país.
De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança, já foram divulgadas as novas metas para o primeiro semestre de 2010. Para os homicídios dolosos, espera-se a redução de 6,33% em relação ao mesmo período de 2009. O subsecretário de Planejamento e Integração Operacional, Roberto Sá, relata que a meta é manter essa taxa de redução anualmente até 2014, ano da Copa do Mundo de futebol.
O empenho das instituições governamentais tem envolvido investimentos em alta tecnologia para o rastreamento dos traficantes em favelas. A novidade é a utilização do GPS para localizar com precisão os criminosos e os policiais durante as operações em favelas dominadas pelo tráfico. O Bope testará abril deste ano um equipamento importado da Holanda que custou cerca de R$ 760 mil. “A ideia é usar a arma como último recurso, poupar moradores e evitar mortes”, explica o major Fábio Rocha Bastos Cajueiro, chefe do Centro de Comunicações e Informática da PM e um dos responsáveis pelo projeto.
É dessa forma que se pode concluir que Maquiavel continua presente no campo político devido a suas influências como teorizador. Os princípios de controle do poder pela autoridade são presenciados claramente nos dias atuais. O Estado busca constantemente controlar centralizar o poder em sua figura, coagindo grupos que ameacem essa tomada de poder e impondo a sua autoridade.
Fontes:
O uso da força pelo governante é visto por Maquiavel como medida necessária em momentos em que a ordem pública precisa ser mantida.
ResponderExcluirA relação entre aspectos da obra de Maquiavel e a atuação do Bope nos morros do Rio de Janeiro é pertinente, mas é necessário explicitar melhor essa relação e também ver em que medida essa política é eficaz para a garantia da ordem.
Rose